Data: 06-12-2017
Mês: Dezembro
Ano: 2017
Foi hoje publicado o Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro de 2017 no qual se avalia os progressos da economia portuguesa e do sistema financeiro nos últimos anos. Em geral, o Banco de Portugal (BdP) conclui que em 2017 um conjunto de desenvolvimentos positivos contribuiu para a consolidação da estabilização do setor bancário, com destaque para o alargamento da maturidade dos empréstimos ao Fundo de Resolução, os aumentos de capital realizados por alguns dos principais bancos a operar em Portugal e a conclusão da venda do Novo Banco.
 
Na identificação de vulnerabilidades, o BdP refere como uma das principais vulnerabilidades da economia portuguesa o elevado endividamento das administrações públicas, dos particulares e das sociedades não financeiras, que continua em níveis acima dos registados para a área do euro. Segundo o BdP, o elevado endividamento, conjugado com baixo crescimento potencial, torna a economia portuguesa mais vulnerável a choques adversos. Recomenda, assim, que se prossiga o esforço de redução da dívida pública, assente no reforço do caráter estrutural da consolidação orçamental, e o esforço de desalavancagem das famílias e das empresas em Portugal, tirando partido do enquadramento macroeconómico e financeiro favorável.
 
O Relatório conclui, ainda que ao nível do setor bancário, verificaram-se melhorias significativas nos rácios de créditos não produtivos (NPL) e de cobertura no segmento de sociedades não financeiras (SNF), embora persistam posições muito heterogéneas entre bancos. Globalmente, entre junho de 2016 e junho de 2017, observou-se uma diminuição de cerca de 8 mil milhões de euros de NPL, dos quais cerca de 6 mil milhões referentes a SNF. Porém, apesar das melhorias recentes no reforço da solvabilidade, na redução do stock de NPL e na perceção dos mercados face aos bancos portugueses, segundo o BdP o setor financeiro também continua a apresentar vulnerabilidades. A redução do stock de NPL, que ainda permanece elevado, exige que as medidas incluídas na estratégia abrangente continuem a ser adotadas. A baixa rendibilidade do setor e a sua elevada exposição ao soberano, ao setor imobiliário e a economias emergentes com fraco desempenho económico constituem outras vulnerabilidades que podem contribuir para a materialização dos riscos que se colocam à estabilidade financeira.
 
Na identificação de riscos, destaca-se a possibilidade de os prémios de risco a nível global serem reavaliados em resultado de desenvolvimentos geopolíticos, dificultando o acesso a financiamento por parte dos agentes económicos mais endividados. O ambiente prolongado de baixas taxas de juro deverá, por outro lado, continuar a pressionar a margem financeira e a rendibilidade do setor bancário nacional. Adicionalmente, cria incentivos para uma menor restritividade na concessão de crédito e, por consequência, uma desalavancagem da economia mais lenta do que o desejável. O BdP recomenda, assim, que as instituições financeiras continuem a avaliar adequadamente e de forma prospetiva a capacidade de crédito dos mutuários, evitando a assunção de riscos excessivos nos novos fluxos de crédito, nomeadamente no crédito à habitação. A este propósito, o BdP pondera adotar medidas com vista ao reforço da avaliação, pelas instituições de crédito, da capacidade creditícia dos mutuários particulares.
 
Relativamente à evolução do Financiamento das SNF, o BdP conclui que no primeiro semestre de 2017, a necessidade de financiamento das SNF foi superior à observada no mesmo período de 2016, refletindo primordialmente uma menor taxa de poupança e uma maior taxa de investimento. O Relatório conclui ainda que o aumento da procura interna e externa tem favorecido a progressiva recuperação do investimento das SNF, sendo crucial que o recurso a financiamento alheio para novos investimentos não conduza a estruturas de financiamento excessivamente alavancadas.

i026753

 

                                                         (Gráfico: Banco de Portugal)

Segundo o BdP, no primeiro semestre de 2017, a utilização líquida de dívida financeira por parte das SNF teve origem essencialmente em créditos concedidos por não residentes. O rácio da dívida total das SNF reduziu-se ligeiramente em junho de 2017, face a dezembro do ano anterior, em resultado sobretudo de um volume importante de empréstimos abatidos ao ativo dos bancos e do contributo positivo da evolução do PIB.

 

i026754.jpg

 

                                                                                                             (Gráfico: Banco de Portugal)

Nesta edição o Relatório apresenta, ainda, três temas em destaque: “Estratégia para lidar com o stock de non-performing loans (NPL)”; “A segmentação do risco nos spreads dos novos empréstimos a sociedades não financeiras” e “Rácio de alavancagem dos bancos – o caso português”. Inclui ainda cinco caixas: “Redução da alavancagem e o investimento das sociedades não financeiras em Portugal”; “Vulnerabilidade das empresas portuguesas à subida da taxa de juro de curto prazo”; “Imóveis recebidos em dação no balanço do setor bancário”; “A vulnerabilidade financeira das famílias portuguesas”; “Evolução dos preços da habitação em Portugal e implicações para a estabilidade financeira”.

Documento Original PDF

  • Em Análise – Evolução do setor imobiliário nas regiões de Lisboa e do Porto entre 2011 e 2023: identificação de períodos de exuberância dos preços
    Em Análise – Evolução do setor imobiliário nas regiões de Lisboa e do Porto entre 2011 e 2023: identificação de períodos de exuberância dos preços Autor(es): Nuno Tavares e Gonçalo Novo

    21/03/24

    Dada a influência do mercado imobiliário no desempenho económico dos países, o acompanhamento das dinâmicas de preços no setor torna-se fundamental. Neste domínio, a distinção entre períodos normais de crescimento e fases de exuberância poderá...

  • Em Análise - Open Strategic Autonomy and the Green Transition
    Em Análise - Open Strategic Autonomy and the Green Transition Autor(es): Inês Póvoa, Gabriel Osório de Barros

    02/02/24

    This document discusses how Open Strategic Autonomy (OSA) and the green transition are related. On the one hand, OSA refers to the balance between the capacity of acting autonomously and openness in strategically important policy areas, which...

  • Sínteses Estatísticas Setoriais
    Sínteses Estatísticas Setoriais Autor(es): GEE/DSE

    28/12/23

    Publicação anual bilingue com os principais indicadores da estrutura e variação do sector empresarial português, por sector de atividade económica (CAE Rev. 3), forma jurídica ou desagregação geográfica (NUTS II), e respetivo enquadramento no...

  • BTEP N° 03 2023
    BTEP N° 03 2023 Autor(es): GEE/GPEARI

    17/10/23

    7.ª Edição do Boletim Trimestral da Economia Portuguesa, com informação disponível em 16 de outubro, numa parceria entre o GEE e o GPEARI, com análise sobre os principais desenvolvimentos da economia portuguesa, reflexão sobre possíveis causas e...

Novidades