Foi hoje publicado o Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro de 2020 no qual se avalia os progressos da economia portuguesa e do sistema financeiro nos últimos anos.
De acordo com o Banco de Portugal, a pandemia de COVID-19 condicionou a actividade económica nos últimos meses, com repercussões na situação financeira dos agentes económicos que colocam importantes desafios para a estabilidade financeira.
Até 2019, a economia portuguesa atravessou um período de ajustamento e convergência com a Europa, traduzido, entre outros, numa forte redução do endividamento das empresas e particulares. A política orçamental sustentou a trajetória de redução da dívida pública em percentagem do PIB iniciada em 2017. O setor bancário registou um ajustamento estrutural da liquidez, uma redução dos custos operacionais, uma melhoria da qualidade das carteiras de crédito, uma gradual recuperação da rendibilidade e um reforço significativo dos rácios de capital.
A este enquadramento favorável juntam-se as medidas adotadas pelas autoridades, que limitaram o impacto da crise sobre o rendimento das famílias e sobre a liquidez das empresas. Os governos assumiram parte dos custos que iriam recair sobre empresas e particulares, mitigando e diluindo no tempo estes custos.
O sector bancário assumiu uma função central no financiamento do sector não financeiro, com pouca liquidez devido à supressão dos regulares fluxos comerciais. As medidas de política monetária, prudenciais e de supervisão salvaguardaram a oferta de crédito. O aumento do endividamento foi uma consequência natural, mas não sem riscos, deste processo.
Neste enquadramento económico e sanitário, as principais vulnerabilidades e riscos para a estabilidade financeira são:
- •Reduções abruptas e significativas de valor em activos financeiros, face a potenciais episódios de volatilidade extrema nos mercados financeiros.
- •Correção em baixa dos preços do imobiliário residencial.
- •Agravamento da dívida das empresas, podendo pressionar a sua solvabilidade.
- •Endividamento dos particulares e das Administrações Públicas no médio prazo.
- •Aumento do nexo entre sistema bancário e sector público, expectativa de aumento dos NPL e perspectivas de rendibilidade baixa no setor bancário.
- •Desadequação dos estímulos monetários e orçamentais aos diferentes momentos da crise.
As medidas dirigidas ao sector bancário e ao sector privado não financeiro devem articular-se e complementar-se para preservar a estabilidade financeira. A crise económica não se deve transformar numa crise financeira.
As iniciativas europeias de resposta à crise e de recuperação económica permitiram estabelecer condições semelhantes entre países, perante um quadro pré-pandémico de endividamento privado e público diferenciado. A eficácia da concretização destes apoios permitirá aos países calibrar as medidas de apoio à economia que promovam trajectórias de recuperação económica alinhadas e que afastem cenários de fragmentação económica e financeira.
Temas em destaque e caixas
Esta edição do Relatório de Estabilidade Financeira inclui dois temas em destaque:
- • A vulnerabilidade da dívida das sociedades não financeiras na crise pandémica;
- • Growth-at-risk: a interacção entre as condições financeiras e a economia na crise pandémica.
Apresenta ainda quatro caixas:
Caixa 1 • O sistema bancário como factor de estabilização económica do choque pandémico: uma simulação de políticas micro e macroprudencial;
Caixa 2 • O recurso a moratórias e linhas de crédito com garantia pública pelas sociedades não financeiras: uma perspectiva de risco de crédito;
Caixa 3 • O recurso a moratórias de crédito pelas famílias;
Caixa 4 • Breve revisão de literatura sobre crédito FinTech: principais benefícios e riscos na perspectiva da estabilidade financeira.
(Tabela: Banco de Portugal)
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